sábado, 24 de maio de 2008

Texto de Opinião elaborado por Helena Borges e Sofia Bernardino, enfermeiras do CHTMAD – Unidade de Chaves

Curiosamente designa-se por terceira idade à etapa na qual nos tornamos idosos. O que implica ser antecedido por uma primeira e uma segunda idade.

É verdade, todo o idoso nasceu, cresceu, amadureceu e envelheceu como todos os seres vivos, é a lei natural da vida....

Todas as fases da vida devem ser encaradas como fantásticas, pois em todas elas se desencadeiam processos de aprendizagem e crescimento.

Mas como é possível encontrar equilíbrio e harmonia na terceira idade? Consciente ou inconscientemente, tentamos ignorar a velhice e nem pensamos que um dia também vamos passar à terceira.

O processo de envelhecimento implica mudança a todos os níveis: físico, psicológico, social e profissional.

A nível físico, verifica-se uma degradação física com um rosto enrugado, devido à diminuição da elasticidade da pele, à diminuição da capacidade de regeneração das células, diminuição da imunidade. Acompanhada por um conjunto de doenças oportunistas, muitas vezes consequência de estilos e hábitos de vida menos saudáveis enquanto jovem e adulto, nomeadamente hipertensão arterial, diabetes, níveis de colesterol elevados, AVC.

Diminuem os reflexos, assim como as acuidades auditivas e visuais. Ou seja, enfrentar o espelho que é o reflexo da nossa própria imagem torna-se cada vez mais um processo difícil. O envelhecimento implica a perda de um estatuto social, entra-se na idade da reforma social. Atingiu-se os 65 anos de idade, e agora? Passamos uma vida inteira a pensar na reforma e como passaremos os dias com tanto tempo livre, e realmente o mal é que há muito tempo livre, demasiado tempo...

É a ponte entre a vida activa e a vida passiva, passa-se de ter um papel activo na sociedade para assumir um papel de mero espectante na sociedade. Do palco passa-se para a plateia, torna-se num membro dependente da sociedade. Segundo Erickson nesta etapa, a pessoa vive um processo de auto-análise de tentar descobrir se toda a vida valeu a pena. A perda dos pares, implica um processo de solidão, inevitavelmente o companheiro de toda uma vida falece. Os filhos encontram-se nos auges das suas vidas, com filhos pequenos e as suas carreiras profissionais no clímax. Como podem compreender as inquietações de uma pessoa que viveu toda a sua vida a seu lado, e sem nunca dar parte fraca, como se de um pilar de sustentação se tratasse.

Estando de acordo que é um processo muito subjectivo, e que não se podem fazer generalizações abusivas, pretendeu-se retratar de um modo muito genérico o processo de envelhecimento. Contudo a velhice no sentido eminente do termo não deve ser encarado como um processo desagradável, doentio e absolutamente em solidão.

Expressões muito frequentes são “velhos são os trapos” e “Agora é que começa a vida”, acompanham muitas vezes os discursos que abordam o tema da terceira idade. É uma preocupação pertinente da sociedade encontrar estratégias para apoiar os idosos.

Foi criado o turismo Sénior, ao qual se tem constatado uma grande adesão, na procura incessante de ocupar o tempo livre e conhecer ou rever sítios fora da cidade.

O governo criou redes de apoio sociais, nomeadamente famílias de acolhimento, centros de dia e lares de terceira idade. A institucionalização é muitas vezes banalizada por oportunistas que tentam aproveitar-se das necessidades afectivas dos idosos e necessidades dos familiares de encontrarem uma solução para os seus entes queridos.

Os lares de terceira devem ser dotados de uma equipa multidisciplinar, nomeadamente, director técnico, psicólogo, assistente social, equipa de enfermagem, equipa médica, animador cultural, auxiliares e se possível fisioterapeuta. É uma equipa que pretende apoiar o idoso em todas as valências que se encontram afectadas e fornecer a maior autonomia possível. Constroem-se verdadeiras famílias entre os profissionais e os clientes institucionalizados. Todas as actividades desenvolvidas são em prol do utente. O animador cultural tem um papel preponderante nos lares, uma vez que tem como principal função desenvolver actividades com o objectivo de incutir responsabilidades ao indivíduo, neste sentido sente-se uma pessoa novamente útil em sociedade e com obrigações. Inevitavelmente as doenças acompanham paralelamente o processo de envelhecimento, pelo que uma equipa de saúde é indispensável, para controlo dos hábitos e ajuda no restabelecer do equilíbrio. Despiste de doenças e controlo de doenças crónicas. É fundamental envolver toda a família neste processo, para que os idosos não se sintam abandonados e depositados numa instituição. E para que os entes queridos se sintam úteis e importantes nesta etapa.

Inevitavelmente, é a única certeza que existe, a partir do momento que se nasce determina-se uma linha de vida que inevitavelmente termina com a morte, naturalmente obedece a um processo biológico, por isso devemos assumi-lo naturalmente e sorrir quando nos vemos reflectidos no espelho.


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